Uma breve história dos medicamentos antipsicóticos: do acaso a alta tecnologia

Leonardo Peroni

A Psiquiatria do início do século passado passava por transformações. Para além do
conhecimento psicanalítico surgiam esforços organizadores de uma psiquiatria mais
fenomenológica e científica. Entretanto, apesar dos belos diagnósticos e descrições detalhadas
dos quadros, se mantinha uma grande crítica e frustração a essa especialidade médica: não
existiam tratamento eficazes!
Foi quase o acaso que nos retirou desse limbo da improdutividade terapêutica. Já na década
de 50, na França pós guerra, um Médico Psiquiatra chamado Deniker, em um bate papo
informal com uma colega médico da Marinha, soube de uma medicação usada no pré
operatório de várias cirurgias. Tal medicação, na época chamada de “4560 R.P” deixava os
pacientes, de forma prolongada, em um estado de relaxamento e calma profundos, quase uma
hibernação. Foi ai que o mesmo teve a idéia de testar esse mesmo remédio em seus pacientes
com quadros de psicose e agitados numa enfermaria psiquiátrica. Voilà! Nunca se tinha visto a
Enfermaria de paciente agitados tão silenciosa. Foi assim que nasceu a descrição da primeira
medicação antipsicótica com eficácia comprovada, posteriormente chamada de
Clorpromazina.
Da Clorpromazina aos dias de hoje muita coisa mudou. Outras medicações foram surgindo
para o tratamento dos quadros psicóticos, sendo o Haloperidol o mais conhecido e
amplamente utilizado ainda atualmente. Já na década de 90 surgiram os antipsicóticos de
segunda geração, sendo a clozapina o primeiro deles, mas apenas mais tarde usado para o
tratamento de psicoses refratárias. Com os antipsicóticos atípicos (ou de segunda geração)
tivemos um salto tecnológico no sentido do entendimento de que outros circuitos
neurofisiológicos, e não apenas aqueles ligados a dopamina, estariam envolvidos na gênese de
quadros psicóticos.
Já mais contemporaneamente, e com intuito de ajudar na aderência ao tratamento dos
pacientes portadores de quadros psicóticos, surgiram os antipsicóticos de depósito ou de
longa ação. Nestes, avanços tecnológicos permitiram que a medicação antipsicótica fosse
injetada num músculo e tivesse duração de pelo menos um mês. Ainda para este ano está
prometido o lançamento de uma medicação antipsicótica de longa ação com pelo menos 3
meses de ação após a aplicação, graças a uma tecnologia de nano partículas que liberam a
medicação lentamente.
Estamos assim mais próximos de conseguir um tratamento adequado para todos os pacientes
com quadros psicóticos. Saímos dos resultados ao acaso de setenta anos atrás para pesquisas
de ponta buscando o melhor para esse perfil de pacientes. Há muito trabalho pela frente, mas
arrisco dizer que já superamos o limbo em que a Psiquiatria se encontrava na década de 50!

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