O olhar da Psicanálise para a doença mental.


Rosilene Sessin de FragaPsicóloga Psicanalista CRP 06/100523

Com a Psicanálise, Freud propõe um olhar para as doenças mentais diferente da Medicina. A Medicina constrói seu saber a partir do corpo e da doença física, buscando as semelhanças entre os pacientes para estabelecer diagnósticos e protocolos de tratamento. a Psicanálise vai ao outro extremo, busca as diferenças, a singularidade do paciente, como cada um constrói e vive sua trajetória, convive e reage à sua doença e aos seus sintomas.

Mesmo que tenha a mesma doença, o mesmo diagnóstico, os mesmos sintomas, a vivência de cada indivíduo é única, e é nessa particularidade que a Psicanálise se atém.

A singularidade é construída a partir de uma história que começa antes do nascimento do bebê. É no encontro dos pais que tudo começa, como construíram a relação entre eles, o quanto esperaram, ou não, ter um filho, como a concepção e a gestação foram vividas, e também o nascimento.

Então o bebê nasce, e começam as relações, primeiramente com aqueles que dedicam os cuidados maternos, podendo serem os pais biológicos, adotivos, ou qualquer outro adulto, de qualquer gênero, que se dedique e invista neste bebê. Dentre esses cuidados, estão aqueles básicos para a sobrevivência, como alimentar, aquecer, higienizar, mas outros cuidados extremamente necessários, e que serão determinantes na construção do psiquismo e da singularidade, que são os cuidados afetivos, como o olhar, o sorriso, a palavra, o carinho, a proteção, a presença, o limite, as regras, e tantos outros. Esse primeiro contato com o outro que cuida e investe é fundamental.

Depois vem as outras relações, com os irmãos, os avós, e demais familiares. Então se inicia o convívio com outros grupos, escola, esportes, faculdade, trabalho, namoro, e assim a história e a singularidade se constroem, a partir das relações, nos diversos ambientes ao longo da vida, e todas essas vão deixando lembranças e registros que fazem cada um ser o que é.

João, 23 anos, um paciente diagnosticado com esquizofrenia, homem, índio, heterossexual, casado, pai de uma menina chamada Maria, estudante de Contabilidade, estagiário em uma empresa. Ana, 38 anos, uma paciente diagnosticada com esquizofrenia, mulher, branca, homossexual, solteira, sem filhos, Pedagoga, funcionária de uma escola. Parecem histórias diferentes, com algo em comum, a esquizofrenia. Possivelmente eles têm sintomas parecidos, como por exemplo, delírios persecutórios, ou mesmo alucinações auditivas, mas, como cada um construiu sua história, desenvolveu sua doença, convive com seus sintomas, é muito diferente. Como João viveu a paternidade? Como Ana concluiu a faculdade? Como reagem aos efeitos colaterais dos medicamentos? Cada um é um!

Psicanálise e Medicina, essas duas importantes ciências, são necessárias. São saberes que focam em aspectos diferentes, e que precisam ser vistos, ouvidos e tratados. O ideal é poderem andar juntos, de forma interdisciplinar, colocando sempre o paciente no centro e visando sempre o melhor para o mesmo, priorizando a necessidade no momento de vida que estiver.

Comentários

Postagens mais visitadas