A sobreposição genética entre Esquizofrenia e Transtorno Afetivo Bipolar – Estado atual a implicações para o tratamento



Por Dr. Martinus Theodorus Van de Bilt

Ainda que classificados em categorias diagnósticas diferentes, o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) e a Esquizofrenia (SCZ) apresentam importante sobreposição tanto na apresentação clínica quanto na susceptibilidade genética. Será que o grau de similaridade clínica entre alguns portadores de TAB e de Esquizofrenia refletem alelos sobrepostos, que influenciam características clinicas específicas e compartilhadas entre os dois transtornos?
Delírio e alucinações são comuns no TAB, e cerca de 1/3 dos sintomas psicóticos são incongruentes com o humor. Sintomas psicóticos incongruentes com o humor estão  associados a pior prognóstico e pior resposta ao lítio,  sugerindo que TAB com sintomas psicóticos (particularmente os incongruentes com o humor) podem especificar um subgrupo etiologicamente mais ligado à SCZ.
Estudos GWAS (Genome-wide association studies , isto é, que “varrem” todo o genoma) têm encontrado um componente poligênico substancial para risco tanto para  TAB quanto para SCZ, com grande proporção da variação genética explicada por alelos compartilhados pelos dois transtornos.
Esse risco poligênico pode ser calculado pelo Escore de Risco Poligênico  (PRS, Poligenic Risc Score, na sigla em inglês), com escores mais elevados indicando maior carga de alelos de risco.  O PRS examina a base genética de cada um dos domínios de sintomas, em cada um dos transtornos e entre os dois transtornos (TAB e SCZ)
O PRS para SCZ diferencia casos de TAB de controles, e há associações diferentes de PRS entre subtipos com TAB esquizoafetivo apresentando um PRS para SCZ maior do que outros subtipos de TAB.
Esse achado apoia a ideia de que, no espectro do TAB, sintomas psicóticos, particularmente aqueles incongruentes com o humor, representam um estrato dimensional com validade sustentável do ponto de vista biológico. Essas características não são apenas fenotipicamente similares àquelas observadas na SCZ prototípica, mas também sugerem  um maior risco genético compartilhado, o que sugere que a BD e a SCZ compartilham mais características fisiopatológicas.
Por fim Esses achados representam um passo em direção ao objetivo de reconceituar definições fenotípicas usando assinaturas clínicas mais ricas, medidas em todos os domínios quantitativos ou qualitativos, incluindo carga de sintomas e expressão de biomarcadores.
Um processo de estratificação multidimensional melhorará a heterogeneidade clínica observada atualmente  e definirá estratos ou subgrupos de pacientes mais precisos, em com os mecanismos biológicos subjacentes, com consequências importantes para o tratamento dos transtornos e definição dos prognósticos.

Maiores informações:
https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/articlepdf/2664010/jamapsychiatry_allardyce_2017_oi_170083.pdf

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