ADOLESCÊNCIA COMO UM PERÍODO DE VULNERABILIDADE





Texto de Dra. Tânia Maria Alves



A adolescência é uma época de enormes mudanças no desenvolvimento que podem deixar os jovens especialmente vulneráveis ​​a ideação e comportamento suicida, como evidenciado pelo aumento acentuado do comportamento suicida e do suicídio consumado com o início da adolescência. Entre os fatores de desenvolvimento que conferem risco estão:
1. Esforços para se tornar mais independente dos pais, com o consequente aumento dos conflitos entre pais e filhos;
2. Aumento dos comportamentos de riscos e impulsividade, refletindo em parte, mudanças e imaturidades neurobiológicas; e
3. Mudança na vinculação primária e dependência dos pais para os pares.
O modelo ecológico social (Kidd ed. 2006) enfatiza a importância de relações recíprocas entre fatores contextuais (família, pares, escola, cultura) e fatores individuais (p. ex., desesperança, depressão) na vulnerabilidade dos adolescentes na formação do comportamento e ideação suicida. É importante notar que o apoio parental, os relacionamentos entre pares e a conexão com a escola parecem agir de forma independente e em conjunto para conferir ou mitigar o risco de suicídio na adolescência. A percepção de falta de conexão com a família, colegas ou escola torna os adolescentes mais vulneráveis ​​a comportamentos e ideações suicidas.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) Innocenti Report Card (UNICEF 2007) fornece dados de 27 países economicamente avançados sobre a percentagem de jovens de 15 anos que endossaram sentimentos negativos específicos e anómicos[1] como ('Sinto-me como um estranho ou Me sinto de fora das coisas', 'Sinto-me fora de lugar ', e 'Eu me sinto só'). Mais de 10% dos jovens na Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Islândia, Japão, Nova Zelândia, Portugal, Suíça e Federação Russa endossaram esses sentimentos. No Japão, 18% dos jovens endossaram os sentimentos 'Eu me sinto estranho e fora de lugar" e 30% endossaram 'Eu me sinto solitário'.
A abordagem psicodinâmica do suicídio examina o significado e a origem do comportamento suicida em termos das vicissitudes dos sentimentos, motivos, do seu significado e das relações interpessoais. Intervenções psicoterapêuticas individuais para o paciente adolescente geralmente são indicadas para tratar baixa autoestima, desesperança, déficits na resolução de problemas e regulação dos afetos (assim como transtornos psiquiátricos específicos, se presentes). Psicoterapia psicodinâmica orientada fornece um caminho para esclarecer e retificar distorções no conhecimento de si e nas relações objetais, melhorando a tolerância ao afeto, as habilidades de resolução de problemas sociais, e promovendo um desenvolvimento saudável e contínuo.



[1] King RA. Psychodynamic and family aspects of youth suicide. In: Oxford Textbook of Suicidology and Suicide Prevention. New York, 2009; p 647-8. Tradução livre.

 [2] A anomia é um estado de falta de objetivos e regras e de perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno.



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