PSICOSE E PORFIRIAS
Leonardo Peroni
É sabido que quadros inicialmente
considerados psiquiátricos podem, na verdade, ser uma manifestação
comportamental de uma doença clínica. Apenas para usar um exemplo corriqueiro
dentro da prática psiquiátrica, pacientes com anemias graves ou hipotireoidismo
podem desenvolver quadros depressivos, porém estes de origem orgânica. O que
torna o exercício do diferencial clínico para quadros de alteração de
comportamento mais desafiador é quando este envolve doenças mais raras, de
manifestação múltipla e diagnóstico complicado, como é o caso das Porfirias.
As porfirias são um grupo de
doenças raras causadas por um defeito genético na produção do composto Heme
(presente, por exemplo, na formação da hemoglobina). Apesar de genética, é um
grupo de doenças que pode se manifestar apenas na fase adulta e ter como
desencadeante fatores como estresse, alguns tipos de medicação, álcool, tabaco
e restrições alimentares. A forma mais comum de Porfiria é a chamada PAI
(Porfiria Aguda Intermitente).
A PAI possui uma tríade clássica
de manifestação clínica, compreendida por crises de dores abdominais,
disautonomia (alterações de pressão arterial e frequência cardíaca, por
exemplo) e neuropatia (central ou periférica). Entretanto, toda a tríade de
sintomas não precisa estar presente para se realizar o diagnóstico de PAI, que
é confirmada a partir de dosagem de metabólitos acumulados dentro da falha na
produção do Heme - por exemplo,
porfobilinogênios e ácido aminolevulínico urinários.
Assim, temos a possibilidade da
Porfiria aguda intermitente se manifestar a partir de um quadro de neuropatia
central, como um transtorno psicótico, por exemplo, sem necessariamente que
toda a tríade de sintomas esteja presente. Segue abaixo o link de um relato de
caso ilustrando exatamente o que foi discutido brevemente neste texto, para que
possamos expandir nosso rol de diagnósticos diferenciais clínicos em quadros
psicóticos.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16910386
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