O IMPACTO DO DIAGNÓSTICO DE ESQUIZOFRENIA NOS FAMILIARES







Texto por: Alessandra de Lacerda Falca – Psicóloga Psicoterapeuta – CRP 06/122290


Sabe-se que os familiares de pacientes com esquizofrenia possuem um papel chave no auxílio para que o paciente consiga aderir ao tratamento medicamentoso e psicossocial.

Quando um familiar recebe o diagnóstico de que seu filho tem esquizofrenia, tende a iniciar um processo de elaboração do luto pela perda daquele ente saudável e com um futuro já idealizado.

É possível que cada familiar vivencie muitas etapas no caminho da elaboração deste luto e de suas projeções, como por exemplo, algumas vezes negando a existência da doença e recorrendo à religiosidade como forma alternativa de tratamento. A percepção que há algo de “diferente” acontecendo e que precisa de ajuda já se mostra como um passo importante na família. No entanto, a manutenção dessa via pode prejudicar a evolução do quadro.

Nesse sentido, é possível identificar que cada família vai construir sua forma de aceite, possibilitando, a seu tempo, ressignificar o lugar desse ente que não será mais como antes, ainda que continue sendo o mesmo. Esse é um grande desafio para os familiares.

Outro ponto importante, é que nesse processo de elaboração os pais tendem a culpar a si e/ou ao outro genitor seja pela genética ou pela forma com que se comportaram com o filho antes do diagnóstico. Vivenciam também diversas outras mudanças na estrutura deste lar como por exemplo a sobrecarga:

·         Emocional (medo, ansiedade, não suportar a convivência);
·         Física (problemas gastrointestinais, privação do sono);
·         De cuidados (internações, lidar com os sintomas positivos e negativo, dependência quase integral do familiar doente, mudanças na rotina da casa com a inclusão de agendas de exames, consultas e demais propostas de tratamento);
·         Financeira (despesas com medicamentos, tratamento que demanda do familiar faltas no trabalho e podem vir a comprometer a renda familiar).

Também pode ocorrer nesta família o isolamento social devido ao estigma da doença. 

Inicia-se então uma busca por reconhecer o que sobrou da personalidade anterior ao diagnóstico em meio a tantos sintomas e a necessidade de ter esperança de que o ente querido volte a melhorar e tudo voltar a ser como antes.

A descoberta da doença pode tanto potencializar crises já existentes num núcleo familiar de vínculos enfraquecidos com a falta de apoio/abandono dos demais membros da família, quanto também fortalecer vínculos de famílias emocionalmente bem estruturadas com o redimensionamento de papéis exercidos por cada integrante.

Contudo, a sobrecarga familiar pode vir a adoecer os cuidadores e assim tornar a situação nesse núcleo ainda mais caótica, impossibilitando que o paciente receba os cuidados adequados, comprometendo o acesso aos serviços de saúde e consequentemente a adesão ao tratamento.

Portanto, ao tratar o paciente é essencial que os profissionais de saúde busquem criar um bom vínculo terapêutico também com esses familiares e proporcionem apoio com psicoeducação e psicoterapia possibilitando assim o acesso à informação sobre a doença e aprendizado de estratégias de enfrentamento frente às crises e os cuidados primordiais no dia a dia.

Esse manejo tende a potencializar as chances desses familiares de ressignificação do filho perdido e investimento psíquico nesse filho real com novas idealizações que venham a fortalecer esse novo vínculo.

A psicoterapia também possui papel fundamental no manejo da angústia de familiares frente ao futuro funcional do filho doente e questões como o envelhecimento e a própria finitude.

Referências Bibliográficas:

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Inogbo, C. F., Olotu, S. O., James, B. O., &Nna, E. O. (2017). Burden of care amongst care givers who are first degree relatives of patients with schizophrenia. The Pan African Medical Journal28, 284. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6011007/


Koujalgi, S. R., & Patil, S. R. (2013). Family Burden in Patient with Schizophrenia and Depressive Disorder: A ComparativeStudy. IndianJournalofPsychological Medicine35(3), 251–255. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3821201/


Solomon, A. (2012). Longe da árvore: pais, filhos e a busca da identidade. São Paulo: Companhia das Letras

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