Esquizofrenia: outras possibilidades de tratamento


Dra. Viviane Setti
Por muito tempo pessoas com doenças mentais foram tratadas em hospitais psiquiátricos e confinadas por longos períodos nessas instituições, eram vigiadas constantemente e se tornavam alienadas do mundo e de si mesmas.  Dois relevantes fatores alteraram a forma de tratar esses doentes. De um lado, o surgimento dos primeiros antipsicóticos na década de 50, que propiciaram uma importante mudança no tratamento e no prognóstico de doenças como a esquizofrenia e, de outro, a luta antimanicomial iniciada nos anos 60 e a consequente reforma psiquiátrica.
 Esses fatores foram essenciais para que uma nova maneira de se tratar a doença mental tivesse início. Os avanços medicamentosos obtidos pela psiquiatria no tratamento das pessoas com esquizofrenia possibilitaram que o número de internações e sua duração diminuíssem, permitindo que esses pacientes retornassem ao convívio de seus familiares e da sociedade. No entanto, os antipsicóticos se mostraram eficazes nos sintomas psicóticos (alucinações e delírios), mas não nos sintomas negativos (anedonia, apatia) ou no comprometimento cognitivo e funcional desses pacientes.
No retorno a seus lares, diferentes dificuldades e conflitos entre os pacientes e seus familiares começaram a surgir. O retorno ocorre sem o preparo necessário, tanto das famílias quanto dos próprios pacientes, provocando uma série de reinternações.
 Para que essa convivência familiar pudesse acontecer de forma positiva, uma série de estratégias e intervenções seria necessária. Segundo Villares (2000), os cuidadores precisam aprender a enfrentar “momentos de agravamento de sintomas e as situações indesejadas tais como a inatividade, a depressão, a confusão, a desorganização, a inadequação do paciente junto ao empobrecimento de sua vida, a expectativa de um futuro melhor para seu familiar doente e para si próprio. Além da sobrecarga de ordem prática e financeira, há também uma sobrecarga emocional, principalmente devido à tensão no cotidiano pelo fato de lidar constantemente com o sofrimento do outro”. Todos esses desafios conduziram a uma reformulação de como as doenças mentais são vistas e quais os objetivos do tratamento.
Visando a reabilitação psicossocial por meio da inclusão social da pessoa que sofre de uma doença mental e da melhoria da relação familiar, a psicoeducação é uma das modalidades de tratamento usadas dentro de um tratamento psicossocial das doenças mentais. É uma estratégia prática que está de acordo com os preceitos da Reforma Psiquiátrica de mudança no modelo de assistência em saúde mental.
Segundo as diretrizes mais relevantes, as intervenções psicoeducativas são consideradas um dos tratamentos psicossociais mais eficazes para as pessoas com esquizofrenia. (Mayoral F at al., 2015) (Norman.R at al., 2017). Estudos empíricos têm demostrado que a combinação entre medicação adequada com intervenções psicoeducativas tem sido efetiva no tratamento da esquizofrenia. (Al-Hadihasan A. et al, 2017)
Em uma meta-análise (Zhao et al, 2015) com dez ensaios clínicos randomizados comparando a eficácia das intervenções psicoeducativas na esquizofrenia com tratamentos padrões, mostrou-se que as intervenções psicoeducativas diminuíram significativamente recidiva e taxas de readmissão para acompanhamento de 9 a18 meses, em comparação ao tratamento padrão.
O paciente, antes alienado de si, agora será convidado a se tornar agente de seu próprio tratamento. Oficialmente, também a família passa a ser parte importante do tratamento nos novos ambientes de atendimento (Brasil, 2005), como unidade de atenção e cuidado, recebendo intervenções específicas, dentre as quais as estratégias de psicoeducação.
  A definição de recuperação não será mais baseada na ideia de cura, mas no processo de aprendizagem e crescimento visando à realização de uma vida significativa e valorizada (Roe et al.2007), apesar de se ter uma doença mental.

Bibliografia

Al-HadiHasan A, Callaghan P, Lymn JS. Qualitative process evaluation of a psycho-educational intervention targeted at people diagnosed with schizophrenia and their primary caregivers in Jordan. BMC Psychiatry. 2017 Feb 13;17(1):68. doi: 10.1186/s12888-017-1225-2.
Mayoral, F., Berrozpe, A., de la Higuera, J., Martinez-Jambrina, J.J., de Dios Luna, J., Torres-Gonzalez, F. (2015). Efficacy of a family intervention program for prevention of hospitalization in patients with schizophrenia. A naturalistic multicenter controlled and randomized study in Spain. Revista de Psiquiatria y Salud Mental, 8, 83-91.
Norman, R., Lecomte, T., Addington, D., Anderson, E. (2017). Canadian Treatment Guidelines on Psychosocial Treatment of Schizophrenia in Adults. Canadian Journal of Psychiatry, 62, 617-623.
Roe D, Rudnick A, Gill KJ. 2007. The concept of “being in recovery.” Psychiatr. Rehabil. J. 30: 171–73
Villares, C. C. (2000). Adaptação transcultural de intervenções psicossociais na esquizofrenia. Rev.Bras.Psiquiatr.,22(1),53-55.
Zhao S, Sampson S, Xia J, Jayaram MB.2015. Psychoeducation (brief) for people with serious mental illness. Cochrane Database of Systematic Reviews 2015, Issue 4. Art. No.: CD010823.DOI: 10.1002/14651858.CD010823.pub2.

Comentários

  1. Parabéns pelo esclarecimento da evolução no tratamento da esquizofrenia .

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