Linguagem e psicose
Dra. Natalia M. H. O. Santos
Linguagem é o sistema através do qual o homem comunica suas ideias
e sentimentos, seja através da fala, da escrita ou de outros signos
convencionais. É através da linguagem que as pessoas comunicam seus sentimos e
pensamentos, trocam informações, criam arte e ciência.
Na psicose, é possível que o sistema lingüístico mostre-se em
certa desarticulação.
Isso é percebido em relação à organização dos signos, nos quais se
percebe que os significantes estão deslocados dos significados. Uma outra
característica marcante do dizer na psicose é a certeza daquilo que é dito, que
é o mais importante para o falante, mesmo que seja irreal.
Em uma psicose, palavras se impõem ao sujeito como vindas do
exterior sob a forma de voz, como eco do pensamento, como enunciação de atos a
cumprir ou como comentários destes.
Na poesia, há a liberdade linguística na personificação,
paradoxos, cacofonias, assonâncias e aliterações.
Primavera
até a cadeira
olha pra janela
(Alice Rui)
Arte, psicose ou poesia Haikai?
Esquizofrênicos com frequência apresentam dificuldade de
compreender expressões figurativas, como ironia, provérbios, metáforas e outros
idiomas, com uma propensão maior em negar o significado figurativo e aceitar o
mais literal. Essa inabilidade é referida como concretismo e constitui uma
manifestação clínica de uma disfunção de linguagem chamada desordem formal do
pensamento.
A psiquiatria e psicologia apontam diversos estudos na tentativa
de entender essas diferenças na linguagem, através da avaliação de déficits
neuropsicológicos, estudos de imagem funcionais (fMRI), achados de
eletroencefalograma (EEG), abordagem matemática (teoria dos grafos) que trazem
achados interessantes mas não conclusivos. Mesmo já estudadas diversas maneiras
de verificar essas conexões, faltam recursos consistentes para elucidar as
desordens do pensamento na psicose.
Temos o delicado papel de olhar para sofrimento do indivíduo, que
pode estar à margem com tal quebra na comunicação, porém trazendo um olhar
menos objetivo e reducionista para sua linguagem e expressividade.
Palaniyappan,
L., et al.. Speech structure links the neural and socio-behavioural correlates
of psychotic disorders. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry; 88, 112–120.
2019
Rossetti,
I. et al. Metaphor Comprehension in Schizophrenic Patients. Front Psychol. 2018 May
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